domingo, 11 de novembro de 2012

Jovens tolos...?



Vivemos a criticar os jovens, dizendo que eles não sabem nada da vida, que têm muito o que aprender. Será mesmo? Eu também pensava assim, mas ultimamente tenho pensado se não somos nós, adultos, os tolos...

Quando jovens temos ideais, somos irreverentes, acreditamos em poder de mudança, no amor... amamos com todas as forças, sem medo, e somos amados de verdade, porque o jovem ama verdadeiramente. E quando se é amado por um jovem, se é especial, único, porque é assim que ele vê.

Um adulto não sabe amar verdadeiramente nem se deixa amar inteiramente. Adultos são chatos, amargos, cheios de medo, desiludidos. E por isso não conseguem mais sentir a felicidade emocionada de quando eram jovens, ditos tolos.

Dizemos que jovem vive de ilusão, mas se a ilusão o deixa feliz, por que isso é ruim? Ruim é ser desiludido como nós, adultos.

Às vezes, muitas vezes, me pego tentando acabar com a ilusão de um jovem quando este se põe a sonhar com algo perfeito... dizendo pra ele que isso não existe, para por os pés no chão, para deixar de tolice... prometo não fazer mais isso! Por que antecipar uma amargura que por certo virá com o tempo? Deixemos que eles vivam os prazeres efêmeros da juventude enquanto eles podem.

A vida é muito curta para vivermos com amargura... De hoje em diante, vou tentar ser diferente do que tenho sido, menos amarga, mais confiante, menos incrédula, mais otimista... mais jovial e menos tola.

sábado, 28 de abril de 2012

O Homem; As Viagens

O homem, bicho da terra tão pequeno
Chateia-se na terra
Lugar de muita miséria e pouca diversão,
Faz um foguete, uma cápsula, um módulo
Toca para a lua
Desce cauteloso na lua
Pisa na lua
Planta bandeirola na lua
Experimenta a lua
Coloniza a lua
Civiliza a lua
Humaniza a lua.
Lua humanizada: tão igual à terra.
O homem chateia-se na lua.
Vamos para marte - ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em marte
Pisa em marte
Experimenta
Coloniza
Civiliza
Humaniza marte com engenho e arte.
Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro - diz o engenho
Sofisticado e dócil.
Vamos a vênus.
O homem põe o pé em vênus,
Vê o visto - é isto?
Idem
Idem
Idem.
O homem funde a cuca se não for a júpiter
Proclamar justiça junto com injustiça
Repetir a fossa
Repetir o inquieto
Repetitório.
Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira terra-a-terra.
O homem chega ao sol ou dá uma volta
Só para tever?
Não-vê que ele inventa
Roupa insiderável de viver no sol.
Põe o pé e:
Mas que chato é o sol, falso touro
Espanhol domado.
Restam outros sistemas fora
Do solar a col-
Onizar.
Ao acabarem todos
Só resta ao homem
(estará equipado?)
A dificílima dangerosíssima viagem
De si a si mesmo:
Pôr o pé no chão
Do seu coração
Experimentar
Colonizar
Civilizar
Humanizar
O homem
Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
A perene, insuspeitada alegria
De con-viver.
 

Carlos Drummond de Andrade